quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Apresentação de Rosa Simas no Lançamento do projecto NADIA


No limiar do século XXI, mais precisamente no ano de 2001, foi publicado o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, dois grossos volumes numa edição da Verbo que levou anos a reunir cerca de 70,000 vocábulos da língua que hoje falamos. Ao consultarmos as palavras iniciadas pela letra M do segundo volume desta obra, dado que o primeiro compreende as letras A - F, ficamos a saber que o substantivo “mulher” significa “1) Pessoa do sexo feminino” e “2) Pessoa do sexo feminino em idade adulta,” definição depois da qual aparece a seguinte listagem de mulheres, ao que parece, “adultas”: “mulher da noite...mulher de Deus...mulher de má nota...mulher de má vida...mulher de virtude...mulher feita...mulher objecto...mulher perdida...mulher sem vergonha...e mulher honrada”. Esta informação esclarecedora termina com uma lista de palavras derivadas: “mulheraça ... mulherada ... mulher-a-dias ... mulherão ... mulherengo ... mulher grande” (definida como “anciã, velha”) ... “mulher-homem ... mulheril ... mulherinha ... mulherio ... mulherona ... mulher-polícia ... e mulherzinha”. Toda esta riqueza semântica numa só página, a 2 546.
Depois de vermos assim retratada a “mulher”, qual não é o nosso espanto ao verificarmos, na página 1996, que o “homem” é “1) Mamífero, da ordem dos primatas, dotado de inteligência e da faculdade de linguagem”, dotes que, aparentemente, escapam à “pessoa do sexo feminino”, claro está. Todavia, é nas duas seguintes definições que a “mulher” acaba por ser excluída da própria espécie humana, o que não nos deve surpreender minimamente, dado que, nesta óptica, a faculdade racional e linguística é do “homem”, que é definido como “2) Conjunto formado por todos estes seres vivos; espécie humana = HUMANIDADE” e “3) Ser humano enquanto síntese de qualidades e fraquezas”. Devidamente esclarecidas/os, avançamos para a seguinte definição, e é apenas nesta, que é a quarta, que nos deparamos com a definição que corresponde à de “mulher” ao definir-se “homem” como – “4) ser humano do sexo masculino”. Dito de outra forma, é apenas à quarta que o “homem” é referido pelo género, porque até aí é definido pelo genérico. Cansadas/os deste exercício lexical, levantamos a cabeça e perguntamos: Será que estamos no século XXI?
No entanto, este mesmo dicionário define o conceito de Igualdade como “Princípio segundo o qual todos os membros de uma sociedade devem ser tratados de modo igual”. E aqui, o cerne da questão reside no verbo modal “devem”. Sim, cada um de nós “deve” tratar o outro de modo igual mas, como todos nós sabemos, a realidade não é bem assim, infelizmente, e a Igualdade de Direitos e Oportunidades, de que a União Europeia nos fala, continua a ser um objectivo pelo qual todos nós temos de continuar a lutar, em prol do bem estar de todos, juntos em sociedade.
Sabemos que têm ocorrido avanços em termos da promoção da “Igualdade de Género” na nossa sociedade açoriana – e que a mulher encoberta pelo capote pertence ao nosso passado. Mas, porque sabemos também que ainda há muito a fazer neste campo, que é a base da sociedade – pois, qual é a primeira pergunta que fazemos quando um bebé nasce: “É menino ou menina? – e porque trabalhar esta questão é a vocação da UMAR Açores, o programa “Nas Asas da Igualdade” foca, de uma maneira especial, a problemática da Igualdade de Género, se calhar a desigualdade mais complicada de se tratar, porque as diferenças são também muito importantes, e ainda bem que existem – para a sobrevivência da espécie, e não só!
No entanto, o Programa que apresentamos agora contempla, simultaneamente, outros tipos de desigualdades, e visa promover a Igualdade de uma forma mais ampla, pois a verdadeira Igualdade baseia-se numa dinâmica transversal que toca a todos e a todas, sem excepção. E como a verdadeira mudança começa dentro de nós, na nossa mentalidade e maneira de ver e pensar, este Programa tem como base, também, uma forte vertente pedagógica, que visa entreter e ensinar ao mesmo tempo, pois aprendemos melhor se estamos verdadeiramente envolvidos em actividades que nos dão prazer e bem estar. O terceiro pilar em que se baseia este projecto consiste nas parcerias que lhe dão vida e razão de ser. De facto neste ano em que celebra 15 anos de trabalho, a UMAR Açores assume a dinâmica transversal e pedagógica do seu esforço de intervenção social, ao realizar o projecto “Nas Asas da Igualdade” com base em importantes parcerias, no que diz respeito a: organização e realização dos eventos; o patrocínio e apoio financeiro; e a colaboração diversa, na cedência de espaços, na divulgação, etc. Todo este esforço colectivo, transversal e pedagógico acaba por ser uma ilustração viva do objectivo do projecto “Nas Asas da Igualdade”: facilitar o desenvolvimento esclarecido de mentalidades, e a participação activa na promoção da Igualdade de Género, em particular, e da Igualdade, lato senso.
A todos os nossos parceiros, agradecemos a forma entusiasta como abraçaram este projecto, e convidamos a intervirem, especialmente os representantes das parcerias dos primeiros 3 meses deste ano que fazem parte desta mesa. Atempadamente, as parcerias e actividades dos restantes meses serão divulgadas em mais pormenor. E como um esforço colectivo desta ordem é, necessariamente, activo e não estático, é natural que mais parcerias e actividades vão surgindo...

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