quarta-feira, 7 de março de 2007

O Dia 8 de Março, Ontem e Hoje



Durante cada ano, certos dias são dedicados a uma certa temática ou problemática. Algumas destas designações são relativamente recentes, enquanto outras têm uma história mais longa. Em Fevereiro, por exemplo, o “Dia Mundial do Doente” comemorou-se a 2 e o “Dia dos Namorados” celebrou-se a 14.
Hoje, 8 de Março, é o “Dia Internacional da Mulher”, uma designação que contempla metade da humanidade e merece a nossa atenção.
Encontramos o contexto histórico desta efeméride no desenvolvimento da Revolução Industrial na Europa e nos Estados Unidos. Durante o século XIX e inícios do XX, a crescente tomada de consciência social e política das mulheres resultou na luta pelo direito ao voto, enquanto o aumento considerável do número de trabalhadoras nas fábricas dos EUA levou estas mulheres, muitas delas imigrantes numa nação jovem à procura de identidade própria e realização económica, a protestarem contra as condições de trabalho sub-humanas – 12 ou mais horas por dia, salários baixos, trabalho infantil, edifícios perigosos, etc. Estas condições de pobreza extrema e exploração humana foram documentadas num livro de fotojornalismo que marcou a época: How the Other Half Lives (Como a Outra Metade Vive) de Jacob Riis.
Esta movimentação culminou, em 1908, numa enorme marcha de 15 000 mulheres a exigirem melhores condições de trabalho e o direito de voto. No ano seguinte, é proclamado o Dia Nacional da Mulher no fim de Fevereiro.
Em 1910 em Copenhaga, o partido Internacional Socialista declara o primeiro Dia Internacional da Mulher, mas em data não definida. Em Março de 1911, uma semana depois da manifestação de mais de 1 milhão de homens e mulheres em vários países europeus, acontece o trágico incêndio na Fábrica de Camisas Triangle de Nova Yorque, onde mais de 140 operárias acabam por morrer.
A designação final do dia 8 de Março conjuga-se seis anos depois, quando mulheres russas iniciam uma greve de quatro dias, contra os mais de 2 milhões de mortos da 1ª Guerra Mundial, a 23 de Fevereiro 1917 do calendário juliano, que corresponde ao dia 8 de Março do nosso calendário gregoriano. Com os movimentos feministas da segunda metade do século XX, a ONU declara 1975 como o Ano Internacional da Mulher, e fica consagrado o 8 de Março.
Depois deste longo percurso, o significado deste dia para o século XXI reside nas palavras luta e celebração. A luta continua, mas devemos também celebrar o que significa ser Mulher hoje.
Lutamos porque muitas desigualdades teimam em persistir e em afectar, por vezes tragicamente, as vidas de muitas mulheres. Segundo as Nações Unidas: nenhum país deste nosso mundo oferece à mulher igualdade de oportunidades; pelo mesmo trabalho, a mulher ganha 75% do salário pago ao homem; se o valor do trabalho não-remunerado da mulher na família e na comunidade fosse contabilizado, equivaleria até 35% do PIB mundial; estudos indicam que até 50% das mulheres são vítimas de maus-tratos e violência; dos 1,3 biliões de pobres no mundo, 70% são mulheres; e mesmo dentro da ONU, dos 185 postos diplomáticos de mais destaque, apenas 7 são ocupados por mulheres.
Todavia, muitos têm sido os avanços, e a mulher açoriana toma cada vez mais consciência de quem é e de quem poderá vir a ser, numa dinâmica própria que merece ser celebrada, de uma forma especial, neste dia. E é isso que se pretende no evento a decorrer no Museu Carlos Machado, e em eventos variados a acontecer nesta Região e no Mundo.

Rosa Neves Simas
in Açoriano oriental , 08 de março de 2007

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