terça-feira, 6 de março de 2007

Mulher de lenço e xaile até quando?


"A mulher de lenço/xaile", um tema de hoje e de ontem. Um tema que nos pode levar a tempos já findos ou a tempos actuais quando, por exemplo, olhamos para as nossas avós. O lenço e o xaile eram duas peças que faziam parte da indumentária das mulheres que partiam para o trabalho do campo. O lenço que cobria a cabeça dos raios solares e o xaile que cobria das intempéries eram peças obrigatórias também para cobrir um pouco o corpo da mulher que, hoje se quer descoberto, mas que em outros tempos era ponto de honra cobrir o mais possível. Se recuarmos no tempo e formos até à década de 20 altura em que a mulher ainda não tinha descoberto a sua capacidade e necessidade de emancipação podemos recordar alturas em que nas ruas da cidade de Ponta Delgada circulavam mulheres a exibirem lenços, ora bordados, ora de tecidos delicados... Mas esta realidade não se reduz apenas às ilhas. Por exemplo, uma das figuras mais conhecidas da cidade de Coimbra, a Tricana, fez do xaile a sua peça de luxo, usando-o sobre os ombros ou traçado sob o braço direito. Aqui os xailes preferidos eram os que se reproduziam em tapete decorativos orientais, denominados "xailes chineses". Mas se o xaile hoje voltou a estar na moda, o lenço, por sua vez, nunca deixou de fazer parte do guarda-roupa feminino. Na cabeça, no pescoço, na cintura, ou, até mesmo preso na alça da mala, o lenço tem estado sempre presente marcando a diferença e o requinte... O mesmo acontece com a luta da mulher. Nunca deixou de estar na moda. Agora mais atenuada. Há 144 anos que se comemora o Dia Internacional da Mulher. Ao longo do tempo a condição feminina mudou, mas hoje as reivindicações continuam a ser as mesmas: fim da discriminação no trabalho, em casa e na sociedade em geral.Também a emancipação da mulher fez cair o lenço da cabeça e o xaile das costas. A luta pela igualdade de direitos não fez cair apenas as saias para dar lugar às calças. Os xailes deram lugar aos casacos e os lenços, em alguns casos, deram lugar aos chapéus. Os anos 20 representaram uma etapa significativa no percurso de emancipação feminina. O mundo inteiro mudou neste último século. Desde o princípio da relatividade de Einstein à queda do muro de Berlim, o planeta sofreu todo o tipo de alterações. As mulheres conquistaram o direito de serem pessoas com os mesmos direitos e deveres, nem que para isso tivessem tido de queimar "soutiens" e desejar a morte de todos os homens. As coisas desde então acalmaram, mas continua a viver-se numa sociedade patriarcal, onde o que é masculino continua a predominar. Li algures que "actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço. Outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma. Um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Uma imagem que em nada difere da escravatura, uma que esta, mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria". O tempo da "mulher de xaile e lenço" tem de acabar, não apenas em alguns meios ou sociedades mas em todo o universo. Para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrém e considerem semelhante coisa como algo inadmissível. Ao assinalarmos em 2007 o Dia da Mulher devemos colocar de parte as pretensões de outros tempos e pensar mais alto desejando tudo aquilo que ainda não foi desejado. O sim ao "aborto até às 10 semanas" terá sido o primeiro passo. Qual se seguirá?

Cristina Sampaio

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